por Marcella Marx
Ao Alê
És como vinho
te reservas, enquanto solta corro
e a cada novo ano, sabor realçado.
Perceptível aos sábios degustadores da safra.
Espalho-me em riachos
enquanto tu, em frascos te encerras.
Broto pronta e inquieta,
tu te demoras, aguardas,
esperando hora de vingar.
Não aguento e transbordo,
incansável, montanhas subo e desço.
Tu permaneces inalterado – salvo o sabor,
o qual cultivas como sabedoria.
Em meu caminho riscos enfrento,
tu os teus: amargura.
Sou tua inquieta admiradora
do cultivo à amplitude.
Aquela que passa querendo ficar,
e foge buscando vencer.
Tu tens-me decifrada, abundante.
De ti quase nada compreendo,
reconheço, pois suas nuanças:
aspereza, austeridade
e, o pouco, pelo aroma que exalas.
N’algum lugar somos irmãos,
permeados pela mesma substancia,
fluída, navegando em direção ao mar.
Somos como água.