por Marcella Marx
Abriu a carta com tanta vontade que rasgou-a ao meio. Com as mãos trêmulas juntou as duas partes e começou a balbuciar o que lia:
“João,
Queria que fosses o primeiro a saber, a ouvir de mim a verdadeira história, para que não chegasse a ti por bocas estranhas, para que só tu pudesses recontar como realmente tudo foi e é. Se me despeço de ti hoje é porque aconteceu o que eu queria. Estou feliz e em paz.
Sempre te disse que minha obstinação pela personagem me levaria a esse lugar e estava certo, mas prometo, não me arrependo. Ela precisava ter um fim, afinal todas as histórias têm fim. Lutava com ela há algum tempo e foi quando percebi que nossos caminhos estavam irremediavelmente entrelaçados e, do meu fim, dependia o dela.
Sinto que não possa estar aí ao seu lado, bebendo um bom vinho para discutirmos se foi como você esperava, (espero que não, pois o bom escritor deve surpreender) ouvir seus comentários, debater, como sempre fazíamos. Paciência.
Agradeço amigo e me despeço agora ‘oficialmente’ e sem pesar.
Nos encontramos…
Vinicius”
João tirou os óculos e enxugou a lágrima que escorregava em seu rosto.