por Cassiano Rodka
Mark Oliver Everett, mais conhecido como E, é essencialmente um compositor autobiográfico. Suas letras refletem sua vida, relatando a perda de sua mãe devido a um câncer, o suicídio de sua irmã mais velha e tantos outros infortúnios que lhe apareceram em seus trilhos. Suas canções são reflexões sobre a vida e a morte, lições sobre perda, amor e inadequação ao mundo.
Em seu lançamento anterior, o álbum duplo “Blinking Lights and Other Revelations”, E escreveu praticamente uma autobiografia musicada. Percorreu várias fases de sua vida e escreveu um disco denso que ele definiu como “uma carta de amor à vida em toda sua linda e horrenda glória”.
Depois de um álbum tão completo e pessoal, o mentor do Eels decidiu tomar a estrada contrária para compor suas novas canções. Sua resolução foi utilizar um personagem inventado para contar sua história. O escolhido foi um velho conhecido dos fãs de Eels, o menino com cara de cachorro da música “Dog Faced Boy”. O cantor imaginou o que teria acontecido com ele e chegou à conclusão que o protagonista teria se tornado um homem com dificuldades de se encaixar na sociedade, sendo frequentemente rejeitado pelas mulheres. E assim surgiu “Hombre Lobo: 12 Songs of Desire”, um disco mais simples, cru e com letras baseadas em um personagem imaginário, mas bastante humano.
Como bem define o subtítulo de “Hombre Lobo”, o álbum é uma coleção de doze canções sobre o desejo. Em cada uma, vemos nosso protagonista em diferentes situações, ora frustrado pela negação de sua musa, ora agressivamente rendendo-se aos seus instintos animais, como no primeiro single “Fresh Blood”, cujo vídeo mostra o cantor perseguindo obsessivamente uma modelo brasileira pelas ruas.
A sonoridade do álbum remete ao som garageiro de “Souljacker”, 4ºdisco do Eels de onde – talvez não coincidentemente – saiu a canção “Dog Faced Boy”. As músicas variam entre faixas roqueiras agitadas e baladas melancólicas como só E consegue fazer. “That Look You Give That Guy”, uma das canções mais belas do disco, foi escolhida para ser o segundo single e mostra esse lado mais frágil (e tão humano) de Mark Everett. O vídeo mostra um pouco dos bastidores da gravação do disco, incluindo a sessão de registro da faixa em questão.
Sempre traçando seu próprio caminho independente de modismos, o Eels mais uma vez lança um disco atemporal que merece atenção, um despretensioso apanhado de melodias construídas com simplicidade e emoção.