
por Clarice Casado
“Layla, you’ve got me on my knees.”
Eric Clapton
A coisa engraçada sobre cachorros é que eles são incondicionalmente capazes de dar amor. Isso é apenas uma constatação à qual foi difícil eu chegar.
Não sou uma (como diz-se em inglês) dog person (essa expressão é praticamente intraduzível). Isso quer dizer que efetivamente não sou “chegada” a cachorros. Hoje em dia nem posso dizer que não gosto deles, não é nada disso. Não tenho nada contra a raça canina. Só não me agradam as atitudes habituais dos cães: latir, pular, mordiscar chinelos e roupas, cheirar tudo o que veem pela frente.
Talvez isso esteja mudando. Isso, o fato de eu “não ser chegada” a cães. No último dia das Mães, me convenceram, aqui em casa, a ter um cachorrinho. Entreguei-me. E veio a Layla. Como na belíssima canção de Eric Clapton. Meu marido batizou-a, acho que para me fazer feliz, porque Layla é a minha canção preferida desde os quinze anos (eu, uma beatlemaníaca! Sorry, Liverpool mates…!).
O fato é que tenho que admitir que a gorducha Layla, uma buldogue inglesa de cinco quilos, está mudando minha imutável opinião sobre os caninos. Layla late, mas pouquíssimo; cheira quase nada, até tenta mordiscar os meus chinelos, mas na terceira tentativa pára, porque eu a ignoro, e o principal: não pula em mim. E nem em ninguém. Mesmo porque seu “corpinho” avantajado não permitiria… Jamais pula em mim, o que me deixa mais do que aliviada – e honrada! Respeita-me, a pequena cadela. Detesto essa palavra. Porque no Brasil ela tem, também, conotação pejorativa.
Layla, little darling, não te chamarei de “cadela”, de jeito nenhum. Layla é a nossa educadíssima “cachorrinha”. E acho que sempre será, mesmo quando estiver com os vinte e cinco quilos que espera-se que ela vá ter…
Virginia Woolf escreveu sobre o cocker spaniel Flush, Graciliano Ramos imortalizou a cachorra Baleia e seu triste fim na literatura brasileira, e mais recentemente o jornalista norte-americano John Grogan mostrou ao mundo todo a sua vida com o trapalhão Marley.
Hoje, portanto, resolvi dedicar algumas linhas para a pequena e calma Layla, para quem eu canto Layla todas as noites, e que faz tudo no lugar certo, senta ao nosso lado quietinha, late pouco, respeita nossos móveis, recolhe-se sozinha para dormir, o que faz durante a noite toda, sem chorar, ouvindo a rádio CBN. É, afinal, uma verdadeira lady inglesa. Nada menos se poderia esperar de alguém com sangue britânico.