Cinema

Dennis Hopper (17/05/1936 – 29/05/2010)

por Pedro Cunha

E o cinema perdeu Dennis Hopper, um ator talentoso e prolífico. Uma rápida consulta no IMDb nos mostra quatro trabalhos dele como roteirista, oito como diretor e espantosas 203 atuações em cinema e televisão. Hopper morreu aos 64 anos, mas se tivesse morrido aos 33 já teria seu nome gravado na história do cinema. Em 1969, lançou “Sem Destino” (Easy Rider), filme que dirigiu, co-roteirizou (junto com Peter Fonda) e estrelou no memorável papel de Billy. O filme rendeu duas indicações ao Oscar: Jack Nicholson, como ator coadjuvante, e Hopper e Fonda pelo roteiro original. Mas mais do que isso, o filme criou um paradigma. Qualquer road movie feito depois de 1969 tem “Sem Destino” como referência. Motocicletas, estradas, chapéus de cowboy e o deserto americano como cenário. Se você nunca viu o filme e imaginou a cena, tenho certeza que foi impossível não escutar o riff do Steppenwolf e o vocal rouco de John Kay gritando “booooorn to be wiiiiiiiild”. Sim, a trilha sonora do filme também é fantástica. Além do Steppenwolf, tem The Byrds com “Wasn’t Born to Follow”, The Jimmy Hendrix Experience com “If 6 Was 9” e outras canções que se tornariam símbolos da virada dos anos 60 para os 70. O fim do sonho, o fim da inocência e o início de uma década mais niilista, menos idealista, mais desiludida e um tanto mais cretina. “Sem Destino” está em qualquer lista que alguém faça de filmes que devem ser vistos, seja qual for o critério da lista. Se Hopper não tivesse feito mais nada, já estaria na história do cinema. Mas a questão é que fez. E fez muito.

Dez anos depois de ter “cometido” “Sem Destino”, Hopper participou de um dos projetos mais malucos e megalomaníacos da história da Sétima Arte: “Apocalypse Now” (1979), de Francis Ford Coppola, é um daqueles filmes cuja história continua sendo contada. Considerado por muitos (inclusive por mim) como o melhor filme de guerra de todos os tempos, foi o resultado de uma experiência a qual Coppola submeteu Hopper, Marlon Brando, Robert Duvall, Martin Sheen e o restante do elenco, tentando recriar para eles o inferno que a guerra significou. Mais uma vez, um trabalho que definiu um gênero. E mais uma vez, Hopper estava lá.

Se “Sem Destino” e “Apocalypse Now” são trabalhos seminais do cinema com a participação de Hopper, ele nos devia ainda aquela atuação soberba, aquela atuação pela qual ele merecesse ser reconhecido. Essa veio, sem sombra de dúvidas, em 1986 com “Veludo Azul” (Blue Velvet, David Lynch). O mestre Lynch, num de seus grandes momentos, viu em Hopper a encarnação de Frank Booth, um daqueles vilões com os quais temos pesadelos depois de ver o filme. Lynch mais uma vez nos leva a uma jornada a um subúrbio idílico sob o qual as coisas não são tão tranquilas quanto podem parecer num primeiro momento. Hopper injustamente não foi nem indicado aos grandes prêmios pela atuação nesse filme.

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Os anos 90 não foram exatamente a melhor época de Hopper: Ser King Koopa em “Super Mario Bros” (1993) nunca será o apogeu da carreira de ninguém. Mas apesar de serem verdadeiras bombas filmes como “Velocidade Máxima” (Speed, Jan de Bont, 1994) e “O Segredo das Águas” (Waterworld, Kevin Reynolds, 1995), foram grandes sucessos de bilheteria e público.

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O século XXI mostrou um Dennis Hopper que aventurava-se em papéis secundários no cinema e na TV, além de também aproveitar oportunidades em novas mídias. Emprestou sua voz, por exemplo, ao game “Grand Theft Auto: Vice City”, de 2002. Também em 2002, teve aquele que, em minha opinião, foi seu último grande papel: o terrorista sérvio Victor Drazen, na primeira temporada da série televisiva “24 Horas”.

Hopper faleceu no último dia 25 e ocupa na história do cinema um lugar importante. Roteirista e diretor de “Sem Destino”, ator de muitos trabalhos, sublime em “Veludo Azul” e muito regular com sua carreira repleta de vilões, Hopper nos deixa. Vai para onde quer que seja, paraíso ou inferno. Mas a impressão que eu tenho é que, seja para onde for, ele segue dirigindo moto, bigode na cara, vento no rosto. Easy Rider.

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