
por Clarice Casado
Se meu espelho falasse,
ele diria:
quem é essa mulher
que um dia vi menina
que me olhava assustada
perdida
envergonhada
quem é ela
quem é
que me olhava
sem dizer nada
(dizendo mil coisas)
quem é ela
quem é
que julgava não saber
não entender
não aproveitar
quem é ela
quem é
que costumava soprar segredos
costurar manhas
desenhar enredos
quem é ela
quem é
que de seu caminho pouco sabia
entristecia
olhava pra baixo
fugia
quem é ela
quem é
que hoje mira-me
altiva
decidida
envaidecida
quem é ela
quem é
que tece destinos
e que alegra vidas
que soluciona mistérios
e emenda feridas
quem é ela
quem é
que não mais chora antes –
porque descobriu que o antes
é apenas um pequeno detalhe
entre o espelho
e o que vem depois.