
por Clarice Casado
Quando olho pelo retrovisor,
quem avisto ainda é um menino de três anos,
de óculos escuros, cantando e dando risadas.
Hoje, não o reconheço mais,
porém sei que
em algum lugarzinho secreto de seu ser,
ainda se esconde o menininho.
Tão escondido, que nem ele deve saber onde.
Mas ali está, disso estou certa,
Porque aprendi a ler seu olhar.
Hoje, há momentos em que qualquer palavra minha
parece ferir-lhe de morte –
Escolho calar-me, então.
Ele também, de regra, recolhe-se em sua concha.
Sigo, obstinada, tentando ler seus silêncios.
E quase sempre consigo.
O deixo, assim, amadurecer.
O que me move
é saber que o meu menininho um dia vai voltar,
na pele de outro menino:
aquele que o meu menininho
um dia há de criar.