
por Clarice Casado
Por vezes, no meio da noite,
tenho a nítida sensação de que
as minhas obras de arte estão
me olhando
me julgando
me dissecando.
Parecem gente,
pessoinhas esquisitas,
cheias de manhas e manias,
produtos da imaginação
de seus insanos criadores.
Sim, porque se artista fosse são,
não seria artista.
E assim eu vivo,
em eterna angústia
(porque artista também sou),
entre as enigmáticas conchas de Ana,
os pássaros metamórficos de Poteiro,
a abstração inquietante de Yara,
a tranquila marina de Aldemir,
a excentricidade dos homens alados de Tenius,
o traço lúdico de Schulz e Groening,
e os olhares ousados de Pattie e Wertheimer.
Enquanto todos estiverem lá,
posso dormir segura: ninguém vai arriscar
a vir e me roubar a alma.