
por Marcella Marx
Além das asas na ponta dos dedos, Maria criou também profundos calos; se fosse hoje em dia, teria desenvolvido uma tendinite, mas aqueles eram outros tempos. Maria era uma menina que gostava de conversar com as pessoas, sempre escutava mais do que falava. A verdade é que passou a falar muito menos e, se Maria fosse uma flor, poderíamos dizer que ela era como as “onze horas”. Seus interlocutores favoritos eram os personagens dos livros e os escritores, entretanto Maria podia ouvir a voz de sua mãe ressoando: Maria, você precisa ter amigas… Era difícil para ela se colocar no centro das atenções; Maria estava sempre olhando de fora ou “de cima do pelo do coelho”, como explicaram naquele livro que ela leu. Maria sentia a dor das tragédias do mundo em sua pele e o peso das dificuldades eram imensas mochilas pesadas amarradas às costas. Maria porém vivia tentando mudar seu jeito de atuar no mundo e sempre dizia a si mesma: leve a vida com mais leveza, Maria. Era bem mais fácil falar.