
por Clarice Casado
Aos meus censores internos,
que pensam poder mandar em mim.
As vozes que em mim habitam
andam alvoroçadas
inquietas
desvairadas.
Querem sair,
querem ver o mundo.
De tempos em tempos,
me viram do avesso,
me põem quase louca,
me fazem procurar sentido,
onde sentido não há:
Querem urrar gritos escuros –
E tempestade.
Querem fazer da madrugada dia claro,
revirar minha memória,
vasculhar minhas entranhas.
Querem me mostrar
verdades que não quero admitir,
nem sentir.
Querem me sussurrar a noite toda,
como anjos disfarçados.
Querem martelar ideias absurdas,
corroer paradigmas,
torturar,
e escancarar as portas todas do meu ser.
Querem jogar comigo,
me colocar à prova,
fotografar minha alma.
Querem me fazer dizer tudo,
sem nada dizer.
Querem me mostrar que posso
o que julgo não poder.
Querem dar asas aos meus desejos,
me dissecar.
Querem me obrigar a fazer poesia.
Conseguiram:
mais uma vez,
cá estou,
ao seu inteiro deleite
e dispor.