
por Clarice Casado
Mais um para a Belzinha,
que comigo divide a angústia
de sermos nós.
“Não sou escravo de ninguém
Ninguém, senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E, por valor eu tenho
e temo o que agora se desfaz.”
(“Metal Contra as Nuvens”, Legião Urbana).
Quisera ver minha alma traduzida,
reduzida a um poema infinito, por ti desenhado.
Das tuas ideias, não faço só poesia:
invento verdadeiros tratados
sobre as gentes e os sentidos da existência.
Das nossas mentes confusas,
angustiadas, acabo tirando só boas lições.
Das nossas perguntas aflitas, cheias de poesia e filosofices, retiro somente o melhor: perfeito sumo.
Das manhas e lágrimas, brotam certezas incertas, e ilusões muito lúcidas.
Dos desencontros e ausências, nascem cartas e conversas: nosso alento nas tormentas internas.
Dos mundos que criamos sem dizer, surgem narrativas de medo e melancolia, que se transformam
em escritos, em poemas, em verdades disfarçadas de versos corajosos.
Das nossas semelhanças – nas falas, nos gostos, nos medos, nas angústias, nas dúvidas, nas doces melodias, nas inexatidões, nos choros mansos, nos feitiços e magias – de tudo o que nos resume, enfim,
cara afilhada,
o que me nutre,
é a certeza perene de te ter comigo,
nos momentos em que comigo,
sozinha, não consigo estar.