
por Clarice Casado
A meu pai, que vai entender esse título,
a Jorge Luis Borges, que também quis voltar a viver em um poema,
à Clarice-menina, que ainda habita em mim,
e a todos que um dia sonharam em poder voltar no tempo.
Se eu voltasse aos 16,
com minha cabeça de 40,
seria menos tímida,
iria a mais festas,
falaria com mais gente,
perguntaria sobre a vida,
estudaria mais filosofia.
Tomaria mais porres,
diria não a várias coisas,
e sim a diversas outras.
Contemplaria o céu noturno à beira-mar,
riria mais de mim mesma,
conheceria as pessoas mais a fundo.
Não teria medo de ser quem eu sou,
sofreria menos por antecipação,
choraria menos sem motivo,
passaria mais noites em claro.
Tomaria mais banhos de sol e de mar,
leria ainda mais,
escreveria incansavelmente em meu diário
e o mostraria para quem por ele se interessasse.
Distribuiria mais afeto,
aprenderia a tocar piano e violão,
iria a mais shows de música.
Diria tudo o que penso.
Viajaria mais com os amigos,
e não me prenderia a ninguém.
Voaria de asa-delta e pularia de paraquedas,
escreveria poemas sem receio de ser criticada,
sonharia mais acordada,
e veria mais alvoradas e crepúsculos.
Aproveitaria mais meus avós, pais, irmãos, tios e primos.
Teria menos horários e mais diversões,
me preocuparia menos com o amanhã.
Seria, enfim, a menina madura que nunca fui,
para que um dia pudesse me tornar,
para sempre, a mulher menina que hoje sou.