
por Clarice Casado
Only love can make it rain,
The way the beach is kissed by the sea.
(Love reign over me, The Who)
Perguntada sobre o que me move a escrever,
respondi:
o que me move
são perguntas como esta.
O que me move são as coisas que se movem ao meu redor.
As ideias que me surgem,
os pensamentos que não podem sair do meu corpo,
os sonhos que não passam de sonhos,
as angústias que insistem em passar a noite.
É o outono,
também o inverno,
algumas vezes a primavera,
e pouquíssimas vezes o verão.
É a incerteza sobre o certo,
e a certeza sobre o duvidoso.
É o medo do que já foi,
e do que ainda está por vir.
É o medo de mim,
o medo de descobrir que posso.
A não-coragem de romper regras,
e a vívida convicção de que as palavras de fato me conduzem,
a todos os lugares, e, ao mesmo tempo, a lugar nenhum.
Me movem as coisas que parecem óbvias, mas se disfarçam de obscuras.
Os cheiros de coisas passadas, e também os aromas do presente, que me tiram a concentração.
Me move aquela necessidade insustentável, por vezes, de gritar.
De berrar para dentro, porque só eu mesma ouço, e entendo.
Me move um pavor de criar mundos: inicio, por vezes,
mas interrompo.
Me move, finalmente (mas nunca como o fim),
a constante possibilidade de fazer poesia,
enquanto aqui eu estiver,
em todas as vezes que alguém resolver vir me sacudir com uma pergunta como a tua.