
por Marcella Marx
Maria nasceu privilegiada. Bastava abrir a porta de casa e gritar: “Mãe, tô indo brincar na rua”. “Tá bom, respondia a mãe. E lá ia ela jogar queimada, brincar de esconde-esconde, andar de bicicleta, escrever em seu diário embaixo de uma árvore. A fome, era seu sinal biológico dizendo que era hora de voltar pra casa.
Uma vez, a professora levou para a classe de Maria uma gaiola com um hamster. “Ele vai assistir nossas aulas e ver como vocês aprendem muito por aqui.” Ao final de cada dia, a professora sorteava um aluno para levar o hamster para passear e dormir na sua casa. Maria foi sorteada. Chegou em casa toda sorridente com a gaiola. Alimentou o hamster com o que tinha de melhor na geladeira. Folha de alface, cenoura, rabanete. Até que não aguentou e, contrariando a recomendação da professora, deu ao bichinho um pedaço de queijo. Afinal, ele pertencia à família dos roedores, internacionalmente reconhecidos como comedores de queijo. Depois de comer, o animalzinho voltou para sua roda e começou a correr e girar.
Maria fazia sua lição de casa enquanto observava o hamster girando e correndo, correndo e girando. “Que vida mais chata, coitadinho”, pensou ela. Foi quando teve uma ideia. Largou o lápis e abriu a gaiola. Pegou o bichinho nas mãos com cuidado e disse: “Hoje você vai dar um passeio.” Ela o levou para o quintal da frente de casa e o colocou no chão sobre a grama. “Agora você vai ser feliz.” Maria soltou o pequeno sobre a grama verde escura do jardim. Alguns segundos foram suficientes para que o animalzinho cavasse um buraco. Maria só teve tempo de tentar puxá-lo pelo rabo. Tarde demais, o hamster tinha desaparecido. “Paciência, pelo menos agora você vai correr e chegar a algum lugar.”