
“Sou mansa, mas minha função de viver é feroz.”
Clarice Lispector em “A paixão segundo G.H.”
Quem nasce, mora ou passa o verão perto do mar sabe bem que bandeira amarela na casinha do salva-vidas sinaliza atenção: o mar parece que está manso, mas oferece perigos. Aí é ter muito cuidado. Pode-se até entrar, mas com muita cautela. Cautela pois ele pode engolir-te aos pouquinhos. Envolver-te. Seduzir-te. Fazer de ti alguém mais vulnerável e propenso a ser por ele atingido. Quem tem medo do mar? Todos nós. É o desconhecido. É o que não sabemos. Queremos, mas não temos certeza do que virá. Muitas vezes, difícil conter o impulso. E é por isso que entramos. Nos aventuramos. O risco atrai, nos move. Sem a perspectiva de arriscar-nos, ficaríamos para sempre no mesmo lugar. Quando a bandeira amarela assusta de forma mais forte, porém, paralisamos. Ansiedade toma conta. Nessas horas, difícil raciocinar. Difícil agir. Impossível lidar. Nessas horas, meus amigos, só nos resta respirar. Fundo. E enfrentar as águas que virão mesmo assim. A outra opção é para sempre permanecer na dúvida. E a dúvida pode matar o que há de melhor em nós: nossa essência e desejos. Assim, meu conselho: mergulhe, sempre.