
Com um pé lá outro cá, de dia era Maria, de noite, era outra. Para ser mais fácil, Maria deveria ser uma só. Fincar bem os dois pés cá ou lá. “Descomplica, Maria, o mundo gira, você, fica parada.” Maria nunca se confundia, sabia onde estava, entendia a alternância de seus passos. Não nasceu assim, buscou ser assim. Outros, sim, a confundiam, com a nobre intenção de defini-la, encaixá-la, adequá-la ao dever. Afinal, a dança de Maria causava medo – a desconheciam. “Aqui está, Maria, seu kit de sobrevivência na Terra, use-o e não sofrerás.” Mas não havia nada o que fazer, pois Maria era o dançar; entre lá e cá, sempre com um de seus pés tocando o chão.