
She was moving away from me, back to her hometown.
Eu, me mudando pra longe, bem longe de minha terra natal.
She was going to become a high-performance athlete.
Eu ia tentar a sorte, ser livre, ou tentar ser.
She was moving to her own place: a two-bedroom apartment fully renovated.
Eu, para um chalé alugado no campo, com telhado de pano.
– Será que eu não vou passar frio? Eu pergunto para os locatários.
– Nós sobrevivemos bem, ele me responde, passando a mão no pano para mostrar como era de boa qualidade, algodão grosso!
She was happy.
Eu, confusa.
*
Cozinha da casa de minha mãe. Eu estou passando uns dias, me despedindo antes de me mudar para o chalé com teto de pano. Comigo está nossa ajudante de anos, alguém que sempre esteve aqui mas que, na verdade, eu não conheço. Meu olhar é pego pelo movimento de algo grande e cinza andando pelo corredor do lado de fora da janela da cozinha.
– O que é isso? Eu pergunto.
– Ah, é a aliá. Ela tem andado pela vizinhança nas últimas semanas.
– Mas como ela entrou aqui? Não devíamos ter fechado o portão? Eu, aflita.
– Não, todos os moradores combinaram de deixar os portões abertos pra ela poder entrar e andar livremente. Ela diz, como se nada fosse.
Enquanto ando até o quintal atrás da casa, eu me pergunto por que só eu percebo a gravidade de termos uma aliá andando pelo bairro. Tento me esconder, com medo, mas ela me vê, para de comer e levanta a cabeça. Nunca olhos tão grandes me encararam assim. Ficamos nos reconhecendo por algum tempo, até eu e a aliá começarmos a fazer sentido.