Em época de “menino veste azul e menina veste rosa”, nada mais pertinente do que analisar o primeiro volume de Bendita Cura, história em quadrinhos criada pelo cartunista Mário César, que já foi duas vezes vencedor do Troféu HQ Mix.
Nas páginas de Bendita Cura, o leitor acompanha a vida de Acácio do Nascimento, um homem que foi submetido desde criança a diversos tratamentos em busca de uma suposta cura para sua homossexualidade. Nesse primeiro volume, vivenciamos junto ao personagem toda a dor e o sofrimento que ele passa em sua infância e adolescência tentando se adequar ao que seus pais e colegas consideram normal. De surras a tratamentos médicos equivocados, Acácio se vê submetido a diversas tentativas de apagar a sua personalidade. Quando ele tem momentos de felicidade, há sempre alguém por perto pronto a reprimi-lo.
A grande sacada de Mário César na hora de ilustrar a história foi a de colorir os desenhos com apenas duas cores: azul e rosa. Já nas primeiras páginas, vemos o pai de Acácio de azul e a sua mãe, toda de rosa. Ele? Vestido em uma camiseta listrada com as duas cores. Há ainda sutilezas, como a casa do personagem principal, que é predominantemente azul, deixando claro quem manda ali. O próprio menino varia as cores de acordo com o que ele está passando na vida. Esse toque faz toda diferença na maneira em que absorvemos a narrativa, nos fazendo parar várias vezes para pensar nas razões dessas vãs distinções.
Bendita Cura é uma história sobre preconceito e sobre os males que a dita “cura gay” pode causar a uma pessoa. O que não pode ser curado só será reprimido. Não precisamos só do rosa ou só do azul. Precisamos do verde, do roxo e do vermelho também. Mais laranja, marrom e amarelo. Branco, preto e cinza. Vamos abraçar as diferenças. Vamos aceitar que o mundo é feito de muitas cores.
Se é preciso desenhar para entenderem… Que venha logo o segundo volume!
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