
Vou-me embora de São Paulo,
lá sou inimiga do Rei
nada gosto
daquele amargor
do stress cinza
Montes de amontoados de gentes
gentes que não são pessoas
quase bichos em sobrevivência
por espaço, por lugar, por tempo,
por dinheiro, por compreensão, por espaços verdes,
e tantas outras coisas,
bichos carentes
Tristes, dentro dos seus carros,
metrôs, ônibus, motos,
olhando seus celulares
para não olhar nos olhos dos outros
e ver o desprezo por si mesmo
O que os une é a perda
do tempo, de vida, de esperança,
de paciência, de alegria, de liberdade, de gentileza
de existência
Eu não sou diferente
sou bicho paulistano meio amargo
querendo fugir do trânsito
para ter tempo de de viver e ser melhor
Mas o que nesse momento me resta
enquanto tudo pára e paira
sobre essa decadência
é escrever esse desabafo
em saber que hoje
não moro mais aqui
só estou de visita