
(Escritora convidada: Heloísa Contrera)
João amava Maria.
Só não pensava no que ela queria.
João amava Maria.
Só não gostava do que ela vestia.
Só se queixava quando ela saía.
João calava Maria.
Cada vez menos ela entendia.
Por qualquer coisa ele discutia.
Só era amor demais, ele dizia.
João atava Maria.
Não era sempre, só quando bebia.
Não era nada, quase não doía.
Depois aquilo virou todo dia.
Quando marcava ela escondia.
João matava Maria.
Mas já não era a única Maria.
E volta e meia uma voz se erguia.
E cada vez mais longe se ouvia.
E cada vez mais gente se unia.
Gritando o horror daquela covardia.
Uma por nós e todas por Maria.