
A hora consome⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
enquanto o dia falece⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
em lugares sem glórias⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
os jornais vendem⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
um mundo perdido⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
e nós os compramos⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
no alívio de um grito⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
que plana sobre a multidão surda⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
a caminhar, harmoniosa,⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
nas manhãs de todas as semanas⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
enquanto há no olhar ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
uma esperança odiosa⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
de que todos esperam⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
o nunca para se rebelar⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
mas é apenas uma fração⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
do tempo em vão⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
em que se pensa por além⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
do próprio pão⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
e, assim se vive encarcerado⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
na liberdade de um sonho grego⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
já há muito abortado⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
e nos sorrisos já não há alegria⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
mas, sim, uma espécie de nostalgia⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
em sentir algo que deveras⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
esta vida⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
não propicia