
O seu João tinha um carro preto, que, agora, está empoeirado na garagem do prédio.
O seu João costumava sair para caminhar todas as manhãs, mas, agora, segura-se em outras mãos.
Debruça-se em outras pernas.
Seu João costumava sorrir ao me dar bom dia e bocejar o meu nome.
Agora, ele não lembra de quem eu sou.
Seu João lembra-me de uma tartaruga.
Arrasta-se e carrega o peso de sua vida nas costas.
Seu João me dá medo.
Da solidão.
Da idade.
Da tristeza.
Por aqueles que virão.
Por aquilo que virá.
O seu João me entristece,
mas me faz tirar proveito.
Desses dias,
que tenho a sorte de ver se arrastar.